Uma passagem da minha vida extremamente importante, foi não só os meus 18 anos com o recenseamento militar, marco importante no crescimento e afirmação e depois em 1979 com os meus 20 anos a obrigação de ir à inspecção (Penafiel) com vista o serviço militar.
Durante a minha infância e adolescência era uma das grandes preocupações e agonia da minha Mãe ao pensar que iria para o Ultramar.
As minhas convicções nesta altura estavam bem definidas e apesar da Guerra nas Colónias Ultramarinas já ter acabado fruto da revolução de Abril quatro anos antes, sempre foi para mim um fascínio a Força Aérea nomeadamente os Pára-Quedistas.
O ingresso nas tropas especiais era uma opção individual (voluntário) como tal com o espírito que me caracterizava, aguerrido, ser diferente, ter novas experiências e novos desafios, alistei-me nos Pára-quedistas e dei mais um susto à minha querida Mãe, mas estava decidido.
O RCP - Regimento de Caçadores Pára-Quedistas, foi oficialmente inaugurado em Tancos em 1956, tendo presidido à cerimónia o Subsecretário de Estado da Aeronáutica, o Coronel Kaúlza de Arriaga, o grande impulsionador das Tropas Pára-Quedistas.
Com o fim da guerra foram extintos os vários RCP que existiam nas colónias, Guiné, Angola e Moçambique.
A 5 de Julho 1975 é criado o Corpo de Tropas Pára-quedistas (CTP) com a seguinte composição:
Base Escola de Tropas Pára-Quedistas (BETP) – Tancos
Base Operacional de Tropas Pára-Quedistas n.º 1 - (BOTP1) - Lisboa
Base Operacional de Tropas Pára-Quedistas n.º 2 - (BOTP2) – Aveiro
Nessa mesma data é criada a Base Escola de Tropas Pára-quedistas (BETP) com sede no antigo RCP em Tancos que é então extinto e onde sou incorporado em 14 de Setembro 1979.
Monumento aos mortos |
Ao entrar na Base Escola, ninguém fica indiferente ao imponente monumento aos Pára-Quedistas mortos em combate durante a guerra colonial e que foi inaugurado em 1968, ainda durante o antigo regime.
Aliás um símbolo de culto e respeito, onde a saudação e continência eram obrigatórios. Jamais esquecerei a frase que acaba por ser o lema dos Pára-quedistas:
“QUE NUNCA POR VENCIDOS SE CONHEÇAM”.
Sempre tive consciência das dificuldades que iria encontrar, tinha mais ou menos noção por outros colegas que por lá já tinham passado, mas tudo é diferente ao enfrentar a realidade.
Não vou negar que sofri, mas nada que a condição humana não possa aguentar ou suportar. Intensidade física muito grande e a carga psicológica altíssima.
O primeiro grande desafio foi a recruta que terminou com o juramento de bandeira a meados de Novembro (1979).
Segue-se o Curso de Pára-Quedismo, onde a condição física é mais uma vez tida como o expoente máximo a par com a componente técnica. Foi de uma dureza impressionante. Todo o curso decorreu durante um inverno rigoroso com muito frio e chuva, com treinos de dia e de noite. Hoje olho para trás 30 anos depois, sinto um grande orgulho e questiono-me até onde a resistência humana ia. A solidariedade e o espírito de grupo são preponderantes para a conquista do sucesso. Ninguém ficou para trás e todo o grupo superou.
Saltar de um avião era já uma obsessão e ao mesmo tempo muito medo. Depois do curso de pára-quedismo ter terminado, a ansiedade do primeiro salto.
Aviocar C 212 |
Foi feito no dia 12 de Dezembro de 1980 no Aviocar C-212-6507, pilotado pelo Capitão Moura a uma altura de 500 metros e o local do salto – Arripiado.
1º Salto de Pára-quedas |
Durante o resto da semana seguiram-se os restantes cinco saltos, todos eles efectuados num avião quadrimotor C 130. Imaginem a euforia e o regozijo, indiscritível!
Saída de salto - C 130 |
Boina Verde |
Todo o esforço desde a minha entrada até 19 de Dezembro de 1980, foi recompensado pela conquista da minha Boina Verde.
Sou transferido a 22 Dezembro de 1980 para São Jacinto para a BOTP2 – Base Operacional Tropas Pára-quedistas.
Aprendi a lidar com as injustiças, e percebi que nem sempre os mais fortes vencem, a astúcia, a audácia e perspicácia são bons ingredientes para a vitória.
A permanência durante um ano em São Jacinto foi o culminar da vivência e convívio militar. Todos os anos havia um exercício militar em cooperação com os espanhóis, essa Operação chamava-se "Júpiter" e pretendia por em prática uma simulação de guerra e todo o teatro operacional. Embarquei em Julho de 1980 na Base militar de Cortegaça e num avião C 130 Espanhol. O destino foi Mértola.
Numa situação real de guerra o apoio das tropas pára-quedistas, faz-se através de saltos operacionais, com alturas aproximadas de 300m e com todo o equipamento necessário à operação: Pára-quedas mais o de reserva, Arma automática Galil, Cantil, Mochila com tenda, cobertor e capa, pá etc.
Neste tipo de salto o avião pratica um tipo de voo chamado rasante e a baixa altitude, tentando não ser captado pelos radares. Os ultimos minutos 10 a 15, antes da saída, todos os pára-quedistas em pé, enganchados com as duas portas abertas e aguardando o sinal verde de largada.
Foi o pior salto que tive, pois na abordagem visual o chão parecia palha (seara) à partida seria um bom local, mas a realidade foi muito diferente. O reflexo do sol enganou-me e o chão eram sucalcos de terra calcinada pelo calor e parecia pedra. A chegada ao solo foi um pouco atabalhoada e fiz uma entorse.
Experiência fantástica e um cenário incrivel, apesar das populações estarem ao correr da Operação muitos foram apanhados de surpresa, principalmente nos ataques nocturnos onde o fogo com balas de salva criou algum pânico na aldeia...
Ensinamentos militares mas que se adaptam muito bem à nossa vida “treino difícil, combate fácil”, quero com isto dizer que em qualquer circunstância da nossa vida pessoal ou profissional, quanto mais bem preparados estivermos mais facilmente enfrentamos problemas, desafios ou até mesmo alcançar os nossos objectivos.
Resisti e dei o meu melhor, cumpri o meu dever patriótico e fiz aquilo que gostei e devo confessar que me sinto orgulhoso do meu percurso militar. Passei à disponibilidade a 01 de Janeiro 1982.
Embarque para exercício |
Numa situação real de guerra o apoio das tropas pára-quedistas, faz-se através de saltos operacionais, com alturas aproximadas de 300m e com todo o equipamento necessário à operação: Pára-quedas mais o de reserva, Arma automática Galil, Cantil, Mochila com tenda, cobertor e capa, pá etc.
Neste tipo de salto o avião pratica um tipo de voo chamado rasante e a baixa altitude, tentando não ser captado pelos radares. Os ultimos minutos 10 a 15, antes da saída, todos os pára-quedistas em pé, enganchados com as duas portas abertas e aguardando o sinal verde de largada.
Operação Júpiter - Mértola |
Experiência fantástica e um cenário incrivel, apesar das populações estarem ao correr da Operação muitos foram apanhados de surpresa, principalmente nos ataques nocturnos onde o fogo com balas de salva criou algum pânico na aldeia...
Farda de Inverno |
Farda de Verão |
Ensinamentos militares mas que se adaptam muito bem à nossa vida “treino difícil, combate fácil”, quero com isto dizer que em qualquer circunstância da nossa vida pessoal ou profissional, quanto mais bem preparados estivermos mais facilmente enfrentamos problemas, desafios ou até mesmo alcançar os nossos objectivos.
Camuflado |
O que posso dizer, senão manifestar o meu grande orgulho por ter sido Boina Verde...
ResponderEliminarMuito bom ler e ficar ao par sobre o sua grande paixão, ser paraquedista, gostei. Tenho medo de altura, mas quero muito saltar de paraquedas para vencer essa barreira, da mesma forma que venci o medo do mar. Gostei muito de ler sobre a sua trajetória que partiu de uma paixão e que se concretiza. Super bacana. Abraço adorei.
ResponderEliminarBoa noite Cris Abreu,
ResponderEliminarNas poucas linhas que descreveram o meu percurso militar, percebeu exatamente toda a paixão envolvente que caraterizou todo este meu trajeto.
Agradeço ter descoberto esta minha faceta e de que muito me orgulho.
Obrigado.