A minha carta...

Sabias muito bem que nunca deixaria de te escrever fosse  em que circunstância fosse.

Hoje e apesar de sentir a tua tão recente partida,  sinto um alívio que me deixa particularmente tranquilo apesar de escrever com aquelas lágrimas que teimosamente insistem  em cair.

Seria extremamente doloroso ver-te sozinho neste período que estamos a viver e que se avizinha longo,  sem sentires o meu carinho da minha presença e que por vezes preferias ignorar apesar de eu saber que sentias.

Sem ninguém que te fizesse a barba e que delicadamente te massajava o rosto com o after shave e perfume a condizer. 

Estarias simplesmente só e entregue ao  teu sofrimento, angústia e revolta.

Eu nada podia fazer e sofria igualmente deste lado. 

No entanto e como foste sempre muito decidido antecipaste a tua viagem de forma a evitar todos estes constrangimentos.

Pois bem, a minha carta não tem morada mas tenho a certeza absoluta que estás à espera dela a qualquer momento para que quando a leres, possas deixar cair aquelas lágrimas de alegria e muito amor que era impossível não contagiares quem estivesse ao teu lado .

Sabes bem que nunca guardei nada que te quisesse dizer,  fosse bem ou mal  pois tive essa felicidade durante toda a vida e neste momento apenas acrescento o que sempre soubemos que um dia iria  acontecer , quando um de nós partisse o outro ficaria para sempre mais pobre.

Neste momento perdi um pouco da minha riqueza que tão sabiamente  me ajudaste a adquirir, mas os pilares,  conselhos e ensinamentos esses não os perdi estão cá para perpetuar a tua memória e seguir em frente como sempre desejaste.

A vida vai continuar concerteza e como a fé é algo que nos deve acompanhar e eu acredito!

Dizias Tu com muito vigor e convicção VIVA A VIDA...e eu concordo e faço tuas as minhas palavras .

Eu aqui e Tu onde estiveres. 

Obrigado Papá nunca me deixes e espera por mim...

19.03.2020

Carlos Faria Martins