Carlos Faria

Carlos Faria

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Crónica de um percurso não programado...

Depois de uns dias sem vontade de me encontrar e com sinais evidentes de me castigar... mas... Nada de importante e os motivos foram tão vagos que me esqueci. Parcialmente resolvido, saí não com o propósito de caminhar ou correr, mas sim deambular nos percursos habituais. 

Estava resolvido a encontrar qualquer mote, imagem, multidão, qualquer coisa que servisse de motivação para escrever sem saber propriamente o que seria a minha crónica de hoje. No entanto as horas iam passando e praticamente nem vivalma, bem sei que o dia era pouco propício a andar pelo passadiço. 

Companhia de longe a longe alguém a passear o cão, à minha direita o mar revolto e a areia lisa e eu continuava tranquilamente pensando enquanto os kilómetros iam passando.
Muita gente séria e sisuda que nem para dar boa tarde servia, mas eu continuava com o meu propósito e não ia desistir. Atravessei a Cidade de Espinho e continuei até aos pescadores, eu pressentia que seria ali. Parei para fazer uma foto a um barco e encontrei algo que despertou minha curiosidade.

Num canto de um armazém de pescadores estava acostado um homem meio a dormir meio acordado,era um jovem, apercebi me depois. Meti conversa uma e outra vez.   Homem de poucas falas, deu para perceber que queria a sua solidão enquanto os demais pescadores bebiam, fumavam e jogavam no café dos pescadores. 

Perguntei lhe como se chamava, antes que respondesse disse eu sou o Carlos e tu és...Chico Puto é assim que me chamam. Porque estás aqui? Gosto de estar sozinho e sou pouco de conversas da treta! Você é da segurança social? Oh Chico! Claro que não... Olha vamos tomar um cafezinho ( deviam ser 16h) ainda não almocei e estou com uma fomeca! fazes me companhia? E conversamos mais um pouco. 

Não dá a minha mãe não deixa e fica chateada se for ao café. Quantos anos tens Chico? 37 anos...naquele momento fez-se luz e o Chico era apesar de homem um bom menino. Moras perto ? Gostava de conhecer os teus pais, só mãe! o meu pai morreu no mar. Achas que a tua mãe se importava? Como se chama? Graciosa, muito bem então vamos lá. E bem perto que era... Nem tive tempo de me apresentar e diz logo a mãe! que fizeste desta vez Chico? Nada mãe! Conheci este amigo e estamos a falar à bué.

É verdade D.Graciosa eu é que convidei o Chico a ir ao café porque ainda não tinha almoçado e podíamos conversar mais um pouco. Eu não gosto que o meu filho frequente aquele mau ambiente e passam a vida a gozar com ele, desde a morte do pai ele ficou muito perturbado e é um rapaz muito só. Dificilmente alguém fala com ele. Somos pobres mas basta olhar para os olhos do meu Chico e ver como está contente. 

Lancha connosco. Olhe que é comida de pobre, uma malga de sopa e um naco de broa e para compor faço uma cevadinha. Oh D. Graciosa nem imagina o quanto feliz me faz sentir. Hospitalidade, humildade, bondade. Podemos ser amigos? Dizia eu, claro, só o que hoje fez ao Chico vale tudo. E olhe que ele é de poucas palavras mas está muito feliz. Tudo o que ganha na ajuda da pesca entrega-me todo o dinheirinho e eu sem ele saber ando a juntar para lhe comprar uma bicicleta. D. Graciosa estou emocionado o lanchinho compôs-me a barriga e agora junte esta notinha na sua caixinha para fazer a felicidade ao seu menino. E nós vamos-nos vendo por aí. Despedimo-nos graciosamente e eu vou estar atento sempre que puder. Entretanto a chuva começa a cair e ainda tenho muitos kilometros pela frente, mas vou feliz.

 Carlos Faria, 11.10.2016 



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